O seu telemóvel espia-o. Mito urbano ou realidade?

Certamente já aconteceu falar com um amigo acerca de férias, ponderar fazer uma dieta e a seguir abrir o facebook e ver um anúncio sobre comprimidos para emagrecer. Não é paranóia colectiva e nós explicamos porquê.

Políticas de Privacidade

Só para ilustrar a falta de consciência do consumidor relembramos uma experiência icónica que remonta não há muito tempo. O fornecedor de Wi-Fi Purple adicionou um item interessante aos seus termos e condições, ao aceitarem as pessoas inconscientemente concordaram com uma “cláusula de serviço comunitário” de mil horas. Aparentemente, durante as semanas em que essa cláusula vigorou nos termos e condições, apenas uma pessoa a detectou.

Serve isto para dizer que, com a implementação do Regulamento Geral de Protecção de Dados, os utilizadores consciencializaram-se, de algum modo, para a necessidade de se protegerem. No entanto, ainda há um longo caminho a trilhar, uma vez que não estão suficientemente informados acerca das permissões que dão às aplicações que instalam e das suas implicações que daí decorrem. Basicamente não leem as políticas de privacidade e aceitam-nas de forma indiscriminada.

Os assistentes virtuais (Alexa , Bixby, Siri)

Muitos de nós agora têm assistentes virtuais graças aos smartphones. É verdade que os dispositivos estão sempre activos, mas de maneira alguma transmitem tudo o que ouvem. Somente quando um dispositivo ouve a palavra de activação é transmitido o discurso para a cloud para análise e respectiva resposta. Depois disso, as empresas podem apagar os dados mas raramente o fazem. Porquê? Porque no que toca a inteligência artificial quantos mais dados conseguirmos recolher tanto melhor. O objectivo é analisar a qualidade do serviço prestado e quais as melhorias necessárias. O processo de revisão pode assumir muitas formas.

A presunção do anonimato total ao falar com um assistente virtual num smartphome existe mas não é garantida. Mas descanse, dado que os assistentes virtuais lidam com milhões solicitações semanalmente é pouco provável que alguém esteja a escutar as suas conversas.

A Inteligência Artificial e a Internet das Coisas

As empresas desenvolvem os seus sistemas para que sejam capazes de detectar certos conteúdos que poderão colocar os utilizadores em situações perigosas, como abusos e suicídios. Porém, esta actuação sugere uma desresponsabilização do utilizador. Se disser à Siri que está embriagado e ela não chamar um Táxi e tiver um acidente, a Apple é de alguma forma responsável? Naturalmente que esta e outras questões lançaram um debate em torno de questões éticas e legais.

Como o microfone do seu telemóvel pode ser facilmente activado

O Facebook solicitou a patente de um sistema que pode activar remotamente o microfone com recursos a sinais inaudíveis transmitidos por uma televisão. Os diagramas que acompanham o pedido de patente destacam como a tecnologia saberia qual o membro da família que estava a assistir a uma transmissão específica. O sistema poderia ser usado para criar perfis de visualização de membros individuais, recomendar conteúdos personalizados e melhorar publicidade direccionada.

Os especialistas em privacidade estão preocupados com a intrusão na casa de cada um de nós, principalmente porque a gravação de áudio em ambiente provavelmente captaria trechos de conversas particulares sem o conhecimento dos intervenientes. No entanto, o Facebook defendeu-se afirmando que é uma prática comum registar patentes que não pretende usá-la.

Os Hackers

Um tema bem quente que não atinge só entidades estatais nem clubes de futebol… Sabia que há brinquedos para crianças, sistemas de alarme e aparelhos de uso doméstico que são conectados à Internet? Sabia que apesar de os dados serem encriptados e codificados, facilmente um hacker pode ver o que se passa em sua casa? Muitas vezes desconhecemos que o que usamos para nos proteger, pode constituir uma ameaça, tornando-nos alvos fáceis.

Os anúncios que nos perseguem

Quem nunca ficou frustrado e irritado por pesquisar um hotel no Gerês e, de repente, nos dias seguintes ser perseguido por ofertas de hotéis no Gerês? Pois bem, agora sabe o que é o remarketing. A publicidade segmentada acompanha-o pela web por meio dos famosos cookies.

A nossa pegada digital

A razão pela qual visualizamos anúncios que parecem ser frutos de escutas deve-se ao facto das empresas de tecnologia e marketing colectarem grandes quantidades de dados pessoais e comportamentais, não por espionagem mas sim para construírem enormes bancos de dados.

Estes dados que recolhem servem para estabelecer padrões comportamentais, permitindo, assim, direccionar anúncios altamente específicos, que geralmente são incrivelmente precisos e até parecem ser preditivos. Não é magia, não é coincidência nem o estão a espiar.

Estes padrões comportamentais baseiam-se em estatísticas e probabilidade, em correlações que já foram estabelecidas e comprovadas. Acerca da questão inicial das férias e dietas, as empresas tecnológicas já podem ter estabelecido uma correlação positiva que mostra que as pessoas que visitam sites de viagens por norma fazem dieta e tentam entrar em forma. Viu? é bastante simples, visita um site de viagens, comenta com um amigo seu que vai passar férias e tem de recuperar a forma e de seguida começa a ver anúncios para emagrecer.

Há um outro factor psicológico em jogo, a atenção! É normal que se concentre nos anúncios direccionados. É perfeitamente plausível que tenha visto 10 anúncios, 9 dos quais não se enquadram nas suas preferências mas um bate certo com aquilo que deseja. Vai lembrar-se dos 9 que não lhe disseram nada ou daquele que parece que adivinhou os seus pensamentos?

Será que as aplicações que instalamos escondem perigos?

É certo que as apps instaladas nos telemóveis de cada um estão a recolher dados e a processá-los sem que nos apercebamos disso. A informação é usada sobretudo para fins comerciais, mas podem haver objectivos ocultos que vão muito além da publicidade. Há uma indústria de dados a crescer na sombra e possivelmente ninguém tem noção do seu impacto, é a chamada “economia de vigilância” e consiste em aplicações e assistentes virtuais (Siri, Bixby e Alexa) que são projectados para facilitar a vida mas ao mesmo tempo recolhem dados (já o ditado diz que “não há almoços de borla”)… Cientes da importância do acesso à informação, as principais potências mundiais, como a China, a Rússia e os EUA, originaram uma guerra cibernética.

Quem se lembra da polémica da FaceApp? Aquela aplicação tão inócua que nos envelhecia? Pois bem, ela baseia-se na tecnologia de reconhecimento facial. Até parece engraçado tirar uma selfie e sermos confrontados com o nosso envelhecimento. O sistema de facto estava extremamente bem desenvolvido e originou algumas brincadeiras caricatas. Mas sabe que dados eram recolhidos? Sabe quem é o proprietário da app? sabe que se a app for vendidas os dados por ela recolhidos também serão? Muitas vezes o problema não reside na informação, mas sim, no que é feito com ela. E se cai nas mão erradas? O acesso ao nosso telemóvel, aos nossos dados bancários pode ser feito através de um pin, de uma impressão digital e prevê-se que futuramente possa ser realizado por meio de reconhecimento facial. E esta hein?

Eis a pergunta de um milhão “Se eu não tivesse um smartphone, isso impediria que as entidades me espiassem?”

Há duas expressões antagónicas “redes sociais” e “privacidade”. A maior parte das pessoas é voluntária, porque de bom grado publica aniversários, nomes, desejos e localizações… mas depois fica escandalizada quando essas informações são usadas ou roubadas.

O maior problema dos smartphones não é o que eles fazem, mas sim o que eles poderiam fazer. Possivelmente o Google, o Facebook e o Governo não o espiam nem o farão.Sempre houve espionagem e vigilância, Os smartphones não são os culpados, mas agora existem mais maneiras de nos espiar e esta assunção deixa-nos sempre reticentes e desconfortáveis.

Sabe que por exemplo os cartões de supermercado controlam as suas compras? Por exemplo se for consumidor habitual de um produto e deixar de o comprar durante um longo período de tempo poderá receber um cupão de desconto para o voltar a comprar. Possivelmente se for mulher e deixar de comprar pensos/tampões durante um longo período começará a receber cupões de cremes para estrias e leites infantis?

Mas como se pode proteger?

Primeiro tenha consciência de que qualquer aplicação pode recolher dados, segundo, saiba que pode restringir as permissões. Evite fornecer às empresas online informações. Antes de fazer um teste online, ou instalar uma aplicação tente descobrir qual detentora.

Use ferramentas online como o Ghostery para ter conhecimento das informações que os sites que visita regularmente recolhem. O que importa não são os dados colectados, mas a forma como essas informações podem ser usadas para o manipular. Verifique sempre as configurações de privacidade do seu telefone, desactive o seu microfone para aplicações em que não seja necessário e desinstale aplicações que não usa.

E na vida real? Quando for de férias não publique nas redes sociais que está fora de casa, tenhas as redes protegidas e se desconfiar de intrusão mude as palavras-chave.

Por fim e porque o artigo já vai longo… tenha em mente que ao optar pela conveniência de uma aplicação está a ceder na sua privacidade. Se quer saber mais acerca do assunto recomendo que assista ao documentário da Netflix “The Great Hack” que aborda o processamento de dados pessoais e particularmente o caso da Cambridge Analytica.

Pretende publicitar a sua empresa nas redes sociais? Fale connosco!

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Filipa Almeida

Licenciada em Psicologia pela UC, pós-graduada em Marketing Digital e Micro-Mba em Gestão Empresarial.
Co-fundadora e Consultora de Marketing Digital da Dreamweb.
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Licenciada em Psicologia pela UC, pós-graduada em Marketing Digital e Micro-Mba em Gestão Empresarial. Co-fundadora e Consultora de Marketing Digital da Dreamweb.

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